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Homens não choram... Será?


Este texto é em homenagem a todos os meus pacientes homens e àqueles atendidos pelo GAHTA – Grupo de Atendimento aos Homens com Transtornos Alimentares do Ambulim (IPq-HC-FMUSP)


“Você percebe que os momentos em que tem compulsão coincidem com momentos em que você está sozinho em casa?”


“Sim, percebi esses dias. Acho que fico meio triste, solitário, não sei. Mas não sei sentir essas coisas, e não sei o que fazer ao invés de comer. Então vou lá e como. Quando vejo já foi.”


Semana passada tive essa conversa com um paciente meu que tem compulsão. Sim, homens podem ter transtorno alimentar (TA). Antigamente, os dados apontavam uma proporção de 10:1 nos casos de TA (para cada 10 mulheres com a doença, havia 1 homem afetado). Dados recentes, porém, dizem que esta razão já está em 3:1. Ah, e ter a doença independe de orientação sexual, isto é, homens com TA podem ser homo ou heterossexuais.


Um ponto comum entre os homens com a doença é a dificuldade de perceber e vivenciar emoções – com exceção da raiva, talvez, que é socialmente aceita e até mesmo desejada. Meninos com raiva na escola e que batem em outros meninos chegam a ser validados por alguns pais; afinal, estão apenas “exercendo o direito de se defender”. É como se ao homem não fosse permitido sentir, ou mesmo falar sobre seus sentimentos, medos, angústias. Sendo assim, torna-se difícil para eles desenvolver métodos saudáveis de enfrentamento de emoções. “Chorar é para maricas”; “terapia é coisa de mulher”. Isso acaba se tornando um fator de risco para doenças psiquiátricas de forma geral. Dados da Organização Mundial da Saúde colocam que, a cada 100 mil pessoas que tiram a própria vida por ano, 15 são homens, enquanto que 8 são mulheres.


Por isso, precisamos valorizar e incentivar nos meninos e homens de nossas vidas a capacidade de demonstrar e falar sobre suas emoções. É necessário ajudá-los a encontrar maneiras mais saudáveis e menos destrutivas de lidar com os sentimentos. Sofrer não é coisa de mulher, não. Sofrer é coisa de ser humano.


OBS: para uma exploração mais aprofundada sobre o tema, sugiro o documentário do Netflix “The mask you live in” e as seguintes leituras:



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